O cadáver da ex-primeira-dama argentina vagou por quase 20 anos, após ser embalsamado, sem um local para enterrá-lo. Atenção: este conteúdo contém spoilers.
Acompanhe os mistérios envolvendo o embalsamento do corpo de Eva Péron na nova série original do Star+: Santa Evita. A ex-primeira dama da Argentina, após morrer precocemente vítima de um câncer, ficou sem um túmulo por duas décadas por ter se transformado em um símbolo político.
O amor do povo argentino por Evita, como ela era carinhosamente chamada, e a bizarra situação de seu corpo são contados em detalhes pela minissérie, que é exclusiva para assinantes do Star+. A plataforma também traz uma série de outros conteúdos baseados em fatos reais como The Dropout, Pam & Tommy e The Thing About Pam. Se você ainda não é assinante, clique aqui.
Se você quer entender melhor a história de Evita e os mistérios envolvendo seu corpo, explicamos tudo contando o que realmente aconteceu com a ex-primeira-dama argentina.

Santa Evita: sobre o que é a série?
Santa Evita conta a história da morte da política e atriz argentina María Eva Duarte de Perón, amplamente conhecida por ter sido a esposa e primeira-dama de Juan Domingo Perón, que governou o país de 1946 a 1955 e depois de 1973 a 1974.
Baseado no romance homônimo de Tomás Eloy Martínez, acompanhamos o caminho do cadáver embalsamado dela depois que as forças armadas derrubaram o então presidente Perón em 16 de setembro de 1955.

Santa Evita: quem era Evita?
Apesar de não ocupar nenhum cargo no governo de seu marido, Eva demonstrou extraordinária habilidade política e acumulou imenso poder. Sua influência sobre a Confederação Geral do Trabalho (CGT), o sindicato mais poderoso do país na época, foi decisiva para torná-lo um bastião do peronismo.
Mais importante foi o trabalho social que ela dirigiu, que a tornou uma figura idolatrada pelas classes mais populares. Suas aparições públicas eram amplamente esperadas e atraíam milhares. Seu apelido, Evita, se tornou sinônimo de adoração para os apoiadores de Perón.
Com 31 anos, a primeira-dama começa a sentir dores e exames revelam que ela tem um tumor no útero. Nem cirurgia, nem radioterapia adiantam e Evita fica cada vez mais debilitada pela doença até que, dois anos depois, no dia 26 de julho de 1952, ela morre.

Santa Evita: como seu corpo é embalsamado?
Pouco depois de ser declarada a morte de Evita, Dr. Pedro Ara, embalsamador de renome mundial, chega ao palácio Unzué, a residência presidencial. O general Perón quer preservar o corpo de sua esposa e em sua decisão pesa tanto seu apego emocional quanto o grande peso político de Eva.
Enquanto Ara passa a noite inteira no processo de embalsamamento temporário do corpo, é desenhada e costurada a túnica branca que vestirá Evita. Em seguida, a cabeleireira faz nela um penteado que prende seu cabelo em um coque na nuca e é colocado em suas mãos um rosário de prata e madrepérola, presente do Papa.
Santa Evita: como foi o funeral?
No dia seguinte, o corpo dela é velado em público no Ministério do Trabalho, sede do governo na qual Evita dirigia seus trabalhos. Uma verdadeira legião de pessoas chega ao lugar para visitá-la, algo que irá durar duas semanas. No dia 9 de agosto, o caixão chega ao Congresso Nacional para receber as homenagens do presidente.
No dia 11 de agosto, o funeral termina com a transferência dos restos mortais para o prédio da CGT. Após isso, o Papa Pio XII começa a receber milhares de pedidos para canonizá-la. A partir do dia seguinte, Pedro Ara inicia o embalsamamento final, que durará 10 meses.

Santa Evita: a espera pelo mausoléu
O processo de embalsamento é feito no segundo andar da CGT, onde foi instalado um laboratório especialmente para isso. Em uma capela ao lado do laboratório, o corpo de Evita descansa quando não está sendo embalsamado, envolto em cortinas pretas. É lá que ela espera a construção do mausoléu planejado para homenageá-la.
A própria primeira-dama havia proposto um edifício colossal chamado de Monumento ao Descamisado. Seria o edifício mais alto do mundo, com 140 metros, encimado pela gigantesca estátua de um operário esculpida em mármore de Carrara.
Pouco antes de Evita morrer, decidiu-se que o monumento fosse erguido em sua memória e abrigasse seus restos mortais em uma cripta. No entanto, as dificuldades técnicas e a magnitude da obra retardam sua execução.
Santa Evita: o roubo do corpo
Em setembro de 1955, um golpe militar força Perón ao exílio e a partir daí o corpo de Evita começa a circular de um local a outro, por ordem do alto escalão governamental. A construção do mausoléu é interrompida imediatamente e o palácio de Unzué é demolido.
Pedro Ara, que continua cuidando do corpo mesmo dois anos depois de terminá-lo, aguarda instruções de Perón, que fugiu do país sem dizer o que fazer com a primeira-dama. Poucos sabem que Evita se encontra no prédio da CGT, mas a Marinha logo descobre.
Temendo que o corpo fique em poder dos apoiadores de Perón, as forças militares começam a debater o que fazer com ele. Os mais radicais propõem queimá-lo, ou mesmo jogá-lo ao mar, mas os mais religiosos convencem o grupo a sepultar clandestinamente Eva Perón.
Santa Evita: primeiros esconderijos
O general Pedro Eugenio Aramburu, homem forte do regime militar, confia a missão de cuidar do corpo de Evita a um fanático antiperonista, o tenente-coronel Carlos Moori Koenig, chefe do Serviço de Inteligência do Exército (SIE).
Na noite de 22 de novembro de 1955, Moori Koenig lidera o grupo que invade a CGT e sequestra o corpo. Durante meses, e contrariando as ordens recebidas, Moori Koenig vagueia com o cadáver por diversos locais da capital.
Finalmente, ele o esconde no sótão da casa de um de seus subordinados, que uma noite, tomado de terror acreditando que alguém entrou na casa para roubar o cadáver de Evita, atira no escuro e mata acidentalmente sua esposa.
Moori Koenig, então, decide levá-lo ao prédio da Secretaria de Inteligência (a SIE) e escondê-lo em seu próprio escritório, em uma caixa de madeira. Logo, ele se torna imprudente e começa a exibir o corpo para qualquer um. O general Aramburu, então, recupera o cadáver de Evita de Koenig e pede que o coronel Héctor Cabanillas seja o responsável pela evasão e exílio dos restos mortais da ex-primeira-dama.
Santa Evita: funeral no exterior
O corpo de Evita permanece em segredo nas instalações da SIE, mas o medo do governo dele cair em mãos erradas persiste. Os militares acreditam que um grupo peronista esteja seguindo o rastro do cadáver, já que velas e flores aparecem constantemente perto de onde Evita está escondida.
Assim, a solução é enterrar a ex-primeira-dama no Exterior, na Itália. O último esconderijo de Evita, antes desta fuga, é um cinema em Buenos Aires, onde seus restos mortais ficam escondidos atrás de uma das telas, sem ninguém saber que está lá – até que Cabanillas finalize os detalhes para embarcá-lo no porão de um navio mercante com destino à cidade de Gênova.
Dois membros da inteligência argentina viajam acompanhando o caixão de Maria Maggi de Magistris, nova identidade dada para Evita Perón no percurso. Trata-se do mesmo nome com o qual será sepultada no Cemitério Maior de Milão, em 13 de maio de 1957.

Santa Evita: a recuperação do corpo de Evita
O destino do corpo de Evita permanece em segredo de Estado por quase 15 anos. Em 1971, a Ditadura Militar argentina encerra seu regime devido às instabilidades no país e novas eleições são feitas.
Perón é chamado para concorrer e unir-se novamente à Argentina. Como forma de ganhar seu apoio, o exército organiza a devolução dos restos mortais de Evita. Cabanillas, que organizou o funeral, planeja a exumação e o traslado do corpo, e o entrega a Perón na sua residência em Madrid, na Espanha, em 3 de setembro de 1971.
Em 1973, Perón inicia seu terceiro mandato como presidente da Argentina, mas ele morre antes de completar um ano no poder. Sua viúva, María Estela Martínez, o substituiu. É aí que um grupo radical de peronistas sequestra o corpo de Evita, em Madrid, e obriga María Estela a repatriá-lo.
Santa Evita: Eva Perón de volta à Argentina
Em 17 de novembro de 1974, os restos mortais de Evita retornam a Buenos Aires e são unidos aos de Perón em uma cripta na residência presidencial, a Quinta de Olivos. Lá eles recebem a visita de fiéis e seguidores.
Mas, em março de 1976, o golpe do general Jorge Rafael Videla cancelou o projeto de criar no local um altar para os dois. Antes de ocupar a residência presidencial, ele ordena a desocupação da cripta e o enterro do casal Perón no cemitério popular de La Chacarita.
Hoje, Evita descansa a oito metros de profundidade, no panteão do elegante cemitério do bairro da La Recoleta, entre aristocratas e grandes nomes do país.