Ambientado na década de 1960, O Estrangulador de Boston mostra o machismo como um dos obstáculos que a personagem de Keira Knightley precisa enfrentar. Atenção: o conteúdo a seguir contém spoilers!
Além de trazer uma história horripilante sobre um serial killer da vida real, O Estrangulador de Boston, disponível no Star+, faz o espectador refletir sobre a questão do machismo.
A principal responsável por trazer o caso à tona na imprensa e escrever sobre eles era uma mulher: a jornalista Loretta McLaughlin (Keira Knightley).
Na década de 1960 (quando se passa a história), o machismo era ainda mais forte do que hoje e não era comum que repórteres mulheres cobrissem histórias de assassinato.
Por isso mesmo, em mais de uma vez, Loretta precisou enfrentar o machismo no dia a dia. Confira três momentos em que o roteiro de O Estrangulador de Boston deixa isso claro.
Loretta e a cobertura de crimes como o do Estrangulador de Boston
Logo no começo do filme, é mostrado que existe uma divisão clara no jornal Boston Record-American, em que trabalha Loretta.
Os homens (maioria na redação) ocupam os cargos mais altos e cobrem assuntos considerados mais sérios, como a editoria policial.
As mulheres, em menor número, cobrem a editoria de estilo de vida, escrevendo sobre assuntos como utensílios domésticos, roupas e, no caso de Loretta, a resenha sobre uma nova torradeira.
Quando insiste com o seu chefe, Jack (Chris Cooper), para cobrir o caso de policiais envolvidos com apostas ilegais, Loretta recebe uma negativa e escuta dele: “Está vendo aquilo? É a editoria policial. Tem seis caras cobrindo isso”, afirma, apontando para um setor só de homens.

A repercussão da matéria de Loretta sobre o Estrangulador de Boston
São usados argumentos sexistas para tentar desmerecer a primeira matéria de Loretta sobre o Estrangulador de Boston.
O comissário McNamara (Bill Camp) vai até a sala do chefe de Loretta e sugere, sem provas, de que ela teria seduzido policiais para conseguir entrevistas.
“Foi ideia sua enviar uma mulher à delegacia? Circulando no bar, dando em cima dos policiais? Ela nem se identificou como jornalista”, afirmou o comissário.
Uma alegação que, como o espectador vê na trama, é mentirosa, já que Loretta se identificou prontamente como repórter e manteve uma postura profissional durante toda sua investigação jornalística.
O papel de Loretta dentro de casa no filme O Estrangulador de Boston
O machismo vai além do ambiente de trabalho e chega à vida doméstica de Loretta.
Ao chegar em casa depois de um dia de trabalho, a jornalista escuta uma discussão entre o marido James (Morgan Spector) e a irmã dele, Kelly (Therese Plaehn).
Sem saber que Loretta estava na porta ouvindo tudo, Kelly critica a cunhada, dizendo que ela trabalha muito, é egoísta e que deveria cuidar mais do marido e dos filhos.
Algumas cenas depois, a questão do trabalho de Loretta gera nova discussão entre ela e o marido.
Na época, ainda existia a visão predominante de que a função da mulher deveria ser ficar em casa se dedicando a afazeres domésticos enquanto o marido trabalha fora e cuida da sua carreira profissional.