O filme documental fala sobre os mais de 82 mil casos de abuso sexual na maior organização de escoteiros dos Estados Unidos.
Chegou ao Star+ um novo documentário que revela o pior lado de uma das organizações mais tradicionais dos Estados Unidos. Escoteiros: A História Oculta (Leave no Trace, título original) traz à luz os mais de 82 mil relatos de abuso sexual ocorridos na história do Boy Scouts of America (BSA), a maior instituição de escoterismo do país.
Em fevereiro de 2020, a BSA entrou com pedido de falência devido aos 2,7 bilhões de dólares que a organização terá que pagar às vítimas. A instituição vinha encobrindo sistematicamente o abuso das crianças sob seus cuidados.
Dirigido pela jornalista ganhadora do Emmy® e indicada ao Oscar®, Irene Taylor, o documentário Escoteiros: A História Oculta mostra as consequências devastadoras dos abusos sexuais sofridos pelos escoteiros da BSA.
O documentário traz entrevistas com cinco vítimas que foram abusadas durante seu tempo como escoteiros, bem como imagens de arquivo e um meticuloso relato da história da organização.
O documentário também mostra o esforço impressionante que a organização fez para tentar encobrir os crimes, por meio de entrevistas com advogados, historiadores, especialistas e executivos atuais e antigos da BSA.
A seguir, entenda melhor sobre o caso relatado em Escoteiros: A História Oculta:

Escoteiros: A História Oculta: a origem do Boy Scouts of America
O Boy Scouts of America foi fundado em 1910, em resposta à crescente urbanização, para manter o contato com a natureza. A organização teve importantes incentivadores no início, como os presidentes Teddy Roosevelt, William Howard Taft e Woodrow Wilson, e a Igreja Mórmon.
À medida que seu número de membros crescia, a BSA usou seus relacionamentos no governo para garantir praticamente um monopólio no mercado de escoteiros nos Estados Unidos.
Em 1960, John F. Kennedy tornou-se o primeiro presidente ex-escoteiro, e quando Neil Armstrong fez uma transmissão de rádio da lua em 1969, ele fez questão de incluir uma saudação especial para seus colegas escoteiros.
Escoteiros: A História Oculta: os ensinamentos perigosos
Mas, a história e os valores ensinados dentro da organização BSA ajudaram a manter as vítimas sob controle, como revelam alguns dos entrevistados no documentário.
“Obediência”, disse John Humphrey no filme – um ex-escoteiro que foi abusado por três anos. “Acho que foi essa característica que colocou muitos de nós em situação de vulnerabilidade.”
Humphrey é agora o líder do Tort Claimant Committee, que representa os interesses de várias das vítimas, muitas das quais têm advogados diferentes, contra a BSA no caso contra a organização.
“Um escoteiro deve ser confiável, então eu confiei em todos”, diz Stuart Lord, um presidente de universidade que ingressou na BSA enquanto vivia em um orfanato e foi abusado por oito anos por vários líderes e voluntários.

Escoteiros: A História Oculta: as consequências dos abusos
Aqueles que compartilham suas histórias no filme também descrevem as consequências do abuso e a vergonha, solidão, raiva e tristeza que ainda carregam com eles. Um entrevistado no documentário, Ron Kerman, hoje com 75 anos, descreve a sensação de que ele nunca atingiu todo o seu potencial.
“Trata-se de descobrir como passar de vítima a sobrevivente”, afirmou Humphrey sobre o enfrentamento e a cura que ele e os outros ex-escoteiros estão passando.
Escoteiros: A História Oculta: Boy Scouts of America sabia dos casos de abuso
O documentário deixa claro que, apesar do que a instituição afirma, a BSA estava ciente de muitos casos de abuso desde o início e se esforçou para lidar com eles de forma silenciosa e sem intervenção externa.
Em 1935, o jornal The New York Times publicou uma matéria sobre a “lista vermelha” da organização: um inventário de mais de 1.000 líderes escoteiros acusados de abuso e pedofilia.
Peter Janci, um advogado que representa diversas vítimas contra a BSA, diz que a lista foi deliberadamente ocultada pelas autoridades – estabelecendo um precedente que tornaria um procedimento operacional padrão na instituição.
Ao longo dos anos, a BSA criou uma “proibição”, um status que raramente trazia consequências de qualquer tipo e praticamente nunca envolvia ação legal. Líderes e voluntários acusados de abuso eram simplesmente registrados e reordenados pelo sistema.
Escoteiros: A História Oculta: a situação atual do caso
Hoje, a Boy Scouts of America demitiu mais da metade da equipe devido a perdas financeiras com o pedido de falência. No entanto, como o filme aponta, seus altos executivos continuam ganhando muito dinheiro, recebendo salários acima da média.
Em fevereiro de 2022, os sobreviventes votaram para aceitar a restituição oferecida pela BSA. Em março deste ano, a organização pagou um acordo de 2,7 bilhões de dólares. O dinheiro deve ser dividido entre as vítimas.