Atuação do elenco e direção precisa têm recebido elogios da crítica especializada, que destaca o tema atual desse filme brasileiro. Atenção: o conteúdo a seguir contém spoilers!
O novo filme nacional A Jaula chegou ao Star+ com exclusividade em novembro e mostra uma das melhores atuações do protagonista do longa, o ator Chay Suede – segundo a crítica especializada.
A Jaula acompanha a saga de um homem aprisionado em um carro enquanto o homem que o mantém preso se considera quase um herói, movido por uma suposta “sede por justiça”.
“A gente gravou o filme há quatro anos e ele segue mais atual que nunca”, disse Chay Suede sobre o filme em entrevista ao jornal O Globo.
Conheça melhor a trama da produção e veja 5 motivos para assistir ao filme A Jaula no Star+:

1. O enredo criativo de A Jaula
O suspense tem uma história bem diferente que se passa basicamente dentro de um carro. O filme acompanha Djalma (Chay Suede), um ladrão de carros, que está de olho em um veículo de luxo em São Paulo.
Seu plano era simples: roubar o carro, lucrar em cima e voltar para casa, onde vive com sua esposa e o filho. Mas o que ele não fazia ideia era que o carro em questão era justamente de um rico médico com sede de vingança. Interpretado por Alexandre Nero, Henrique fez de seu carro uma espécie de prisão de onde não é possível sair.
Além das portas e vidros não abrirem, quem fica preso no automóvel não consegue se comunicar com quem transita pela rua. Assim, ninguém ouve os gritos do ladrão e nem enxerga o que se passa dentro do carro. É aí que observamos o terror se apoderar de Djalma enquanto ele tenta sobreviver ao plano do “cidadão de bem”, Henrique.
2. A inversão de papéis em A Jaula
Ao assistir A Jaula, o público vai perceber logo o questionamento que o filme – e seu diretor João Wainer – quer fazer: quem é o vilão e quem é o mocinho dessa situação?
João Wainer, que dirigiu os documentários Pixo e Junho – O Mês que Abalou o Brasil, quis destacar as hipocrisias que alguém que se diz “civilizado” pode cometer.
De acordo com Daniel Schenker, o crítico do jornal O Globo, "apesar de Henrique expressar a saudade de um tempo menos feroz, se permite fazer justiça com as próprias mãos depois de ter sido repetidamente afetado pela violência, evidenciando, uma estrutura perversa.”
3. A Jaula questiona o é justiça e o que é vingança
"O filme foi inspirado em um evento real que aconteceu na Argentina, mas há uma parte ficcional”, afirmou o diretor, João Wainer, em entrevista para o site Tela Viva, destacando que a parte verídica foi o que mais o interessou devido a seu histórico como jornalista.
Segundo Wainer, a ideia de fazer justiça com as próprias mãos é algo muito encontrado no país hoje. “Esse conceito, presente em um dos personagens, deixa o filme muito realista. Acho que, quando chega nesse ponto, começa a barbárie e acaba a civilização. A trama permite esse questionamento de até onde é justiça e quando passa a ser vingança".

4. O clima angustiante e tenso de A Jaula
A partir do momento que Djalma é preso dentro do carro, passamos a acompanhá-lo tentando sobreviver naquele pequeno espaço. “Em que pesem as restrições, João Wainer soluciona tecnicamente bem os inevitáveis desafios na realização de um filme dentro não só de um espaço fechado, como muito confinado — o interior de um carro”, comentou o crítico Daniel Schenker.
Marcelo Muller, crítico do site Papo de Cinema, diz que “outro ponto positivo é a suspensão da noção de tempo. Não sabemos ao certo quantos dias, horas ou minutos se passam de uma cena a outra, um interessante procedimento que visa ampliar a desorientação e, por consequência, a inquietação”.
De acordo com João Wainer, dirigir o filme dentro de um espaço tão restrito foi bem difícil. “Eu acho que aí entra um mérito muito grande do diretor de fotografia, o Leo Ferreira. Eu, ele e o Chay criamos uma sinergia de trabalho muito boa. A gente se entendia sem precisar falar”, explicou.
5. A grande atuação de Chay Suede em A Jaula
Chay Suede contou que atuar sozinho dentro de um espaço tão pequeno foi muito difícil. “Quando a gente está no set, há muitos atores para observar e conversar diante de alguma dificuldade. Mas ali, percebi que só tinha a mim mesmo, eu era o ator com quem devia contar”, explica ele em entrevista ao O Globo.
“Precisava buscar tudo que o personagem pedia no meu corpo, na minha memória”, conta Chay. Segundo o ator, apesar da dificuldade, tudo ficou claro na exibição do longa.“Depois que vi o filme, entendi. Era para ser sofrido mesmo”.
“Meu corpo passou por estresse e por momentos duros durante a gravação do filme, tanto pelo emagrecimento quanto pela própria dinâmica de sofrimento do personagem. Tudo aquilo que o público vê, em algum nível, é real sim, difícil, complicado, claustrofóbico e muito calor”, disse Chay para o site Metrópoles.
O esforço do ator rendeu elogios, com os críticos destacando a entrega física e psicológica dele ao personagem. “Chay Suede transmite o desespero e a fragilidade crescentes do personagem”, afirmou Daniel Schenker de O Globo.
“Chay Suede dá conta do recado na pele desse homem se exaurindo aos poucos, que está angustiado pelo isolamento e amedrontado por gradativamente entender que está à mercê de alguém cuja noção de justiça é deturpada e torta”, conclui Marcelo Muller.