O documentário é um importante registro da história da população negra – e que havia sido ignorado durante anos. Atenção: o conteúdo a seguir contém spoilers!
Chegou ao Star+ o aclamado documentário Summer of Soul (...ou Quando a Revolução Não Pode ser Televisionada) – que marca a estreia na direção do músico multi-instrumentista Ahmir Thompson, o Questlove da grupo de hip hop The Roots.
O premiado filme traz a história do Harlem Cultural Festival, evento realizado em 1969 e que promoveu a música e cultura negra nos Estados Unidos, servindo de inspiração para muitos outros eventos do gênero.
A produção ganhou o Oscar® 2022 de Melhor Documentário de 2022, além do Grammy® de Melhor Filme Musical, e já pode ser considerado um clássico pelos amantes de música.
Quem ainda não assistiu a esse belo filme, vale a pena conferir cinco ótimas razões para dar play imediatamente em Summer of Soul, no Star+:

1. Summer of Soul traz a recuperação de um importante momento da História da população negra
Grande parte da aclamação dada a Summer of Soul foi devido à recuperação de material feita por Questlove de um momento da História pouco falado não só no mundo como também nos Estados Unidos.
“Muitas vezes, grande parte de nossa História como negros é deixada de lado, enfiada em um canto e considerada insignificante pelos poderes constituídos”, afirmou Relly Hunt, crítica norte-americana da Gritty Vibes Magazine.
“Quando soubemos que houve um grande festival de música negra no mesmo verão de Woodstock, em 1969, e que existiam filmagens arquivadas até agora, infelizmente não ficamos surpresos”, complementou Relly.
O filme é uma cápsula do tempo de um dos anos mais turbulentos e divisivos da História norte-americana que, como aponta o New York Times em seu artigo sobre o filme, esse momento sempre foi visto “por lentes de pessoas brancas”. “Assistir a esse filme trouxe uma nova perspectiva e reforçou o fato de que os negros têm muito a dizer”, explicou Relly Hunt.

2. Summer of Soul apresenta um festival de música que foi tão grande quanto Woodstock
Summer of Soul mostra as gravações do Harlem Cultural Festival, realizado no verão de 1969, no Monte Morris Park (que agora se chama Marcus Garvey Park) no bairro do Harlem, em Nova York.
Ao longo de seis finais de semana, do fim junho ao fim de agosto, 300 mil pessoas compareceram ao festival para ouvir alguns dos artistas negros mais populares dos Estados Unidos na época – tais como Nina Simone, B.B. King, Sly and the Family Stone, Chuck Jackson, David Ruffin, Hugh Masekela e Stevie Wonder, entre outros.
Não muito distante do Harlem, aconteceu o famoso Festival de Woodstock, também no verão de 1969 – e que ganhou bem mais destaque da mídia da época. Já as filmagens do Harlem Cultural Festival ficaram obscuras por quase 50 anos.
3. Summer of Soul apresenta as últimas palavras de Martin Luther King
O pastor Jesse Jackson fez parte de uma das apresentações de música gospel no palco do Harlem Cultural Festival e, entre as canções, ele contou a história das últimas palavras de Martin Luther King, o famoso ativista líder do movimento de direitos civis. O discurso foi direcionado ao músico Ben Branch, que se apresentaria naquela noite no evento.
Jesse revelou que Luther King disse a Ben: “Certifique-se de tocar 'Take My Hand, Precious Lord' hoje à noite. Toque bem bonito”. Segundos depois, ele foi baleado. Jesse Jackson contou essa história a um Harlem ainda em luto e recém-saído dos distúrbios no bairro, em 1968, após o chocante assassinato de Martin Luther King.
A partir desse anúncio no palco, conjunto de Jesse Jackson começa, então, a tocar essa mesma música em homenagem a Luther King, em um dos momentos mais emocionantes do filme.

4. Summer of Soul traz uma visão diferente sobre um dos eventos mais famosos da História
Uma das partes mais impactantes de Summer of Soul acontece quando ficamos sabendo que o pouso na Lua, realizado em 20 de julho de 1969, por uma tripulação norte-americana a bordo do Apollo 11, ocorreu em um dos dias do festival.
No entanto, para a maioria dos presentes no evento do Harlem, o acontecimento tinha pouco significado e não poderia importar menos. Mais emocionante e pessoal para o público foram as apresentações de artistas negros ocorrendo no mesmo horário.
“Este festival aconteceu no mesmo verão em que Armstrong e Aldrin caminharam na Lua. O filme explica habilmente a dissonância entre os dois eventos”, explica o jornal norte-americano The New York Times no artigo de Wesley Morris sobre o documentário.
“Naquele momento, em 1969, com o país convulsionado pela guerra, o racismo e Richard Nixon, o poder dos artistas negros reunidos em Nova York naquele momento reforça o fato de que o Harlem era quem merecia atenção”, afirma o crítico Wesley Morris do The New York Times.
5. O documentário Summer of Soul conta com a direção excelente de Questlove
O filme foi amplamente bem recebido não só pela sua importância histórica e cultural, mas também devido à excelente técnica envolvida em sua produção. Afinal, as gravações feitas em 1969 pelo produtor Hal Tulchin estavam guardadas há mais de 40 anos em um porão e foram restauradas com qualidade.
Devido ao incrível trabalho envolvido, o filme ganhou o Oscar® de Melhor Documentário de 2022, também levou a estatueta de Melhor Documentário no Critics' Choice Documentary Awards®, no qual venceu em todas as seis categorias em que foi indicado; além de ser premiado ainda como Melhor Documentário no British Academy Film Awards®, e Melhor Filme Musical no Grammy®.
“Às vezes, não se sabe ao certo a qualidade das imagens de arquivo. A filmagem foi encontrada, mas o filme foi perdido. Foi feito um trabalho com cortes e conversas sobre as imagens que podem falar muito bem por si mesmas”, comentou o crítico Wesley Morris. “Aqui, a descoberta é um deleite. Nada parece casual”.
Veja esse belo e importante registro histórico (que conta também com excelente trilha musical) no documentário Summer of Soul (...ou Quando a Revolução Não Pode ser Televisionada) no Star+.